terça-feira, 17 de maio de 2016

Dor crônica. Uma doença, e não um sinal de alerta!

A dor, tanto aguda como crônica, tem recebido a atenção dos profissionais de saúde a milênios.

Hipócrates, na Grécia antiga, já referia que aliviar a dor é uma obra divina. 

O professor do Hospital Universitário de Madri, Antonio Ojugas, na sua obra "A dor através da história e da arte" vol. 1 (Editora Atlas Medical Publishing Ltd. UK. 1999), refere : "Por isso, (referente à dor e ao sofrimento) em todas as civilizações, em todos os países e em todos os momentos históricos, tentou-se explicar o que é e porque sentimos a dor e a forma de combatê-la, daí porque ela foi o motivo mais importante e decisivo para o desenvolvimento da arte de curar". 

Nas últimas décadas verificamos um grande interesse e um progresso muito importante na área de dor, com estudos sobre sua etiologia, mecanismos, métodos diagnósticos, modalidades de tratamento, etc.

Podemos dizer que o aumento na sobrevida em geral da humanidade é um dos determinantes desse maior interesse. 

Vivenciamos um rápido e vultuoso crescimento da população em geral, com um aumento importante na vida média da população. As pessoas têm, portanto, maior possibilidade de apresentarem condições dolorosas características da terceira idade e ficam mais expostas a outras condições potencialmente dolorosas (doenças, traumas, etc). 

O aumento da sobrevida em relação às doenças (câncer, trauma, AVC, etc) também propicia maior incidência de sequelas dolorosas.

Admite-se a prevalência das dores crônicas em aproximadamente 30% da população de um país. Teríamos, desta forma, no Brasil, aproximadamente 50 milhões de pessoas com dores crônicas e no Espírito Santo cerca de 1 milhão de pessoas. Seguramente uma queixa refletindo uma das maiores prevalências de doença em nosso país! 

É importante ressaltar que, diferentemente da dor aguda, que tem função primordial de alarme, a dor crônica, por si só, perde a finalidade biológica de alarme, sendo considerada como doença, e não sintoma.



Dr. Fabrizio Borges Scardino

Neurocirurgia

Tratamento Intervencionista da Dor

terça-feira, 10 de maio de 2016

Quando é necessária a realização de exames de imagem (raio-X, tomografia computadorizada ou ressonância magnética) para dores na coluna lombar?

As Sociedades Brasileiras de Neurocirurgia, Ortopedia e Traumatologia, Reumatologia, Radiologia, Medicina Física e Reabilitação e Patologia vertebral publicaram em 2008 a seguinte diretriz: "Diretrizes Lombalgias e Lombociatalgias - Atualização 2008".

Nesta diretriz é afirmado que "em pacientes com quadro de lombalgia mecânica comum aguda, as radiografias simples são dispensáveis, principalmente em adultos jovens. Nas situações de recorrência ou persistência do quadro clínico, além da quarta semana do início da sintomatologia, são indicadas as radiografias simples nas incidências de frente e perfil.

As radiografias simples dinâmicas geralmente não são utilizadas na referida lombalgia mecânica comum aguda, mas, nos casos crônicos, podem auxiliar na sua elucidação fisiopatológica." 

Afirma também que "a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) têm indicação naquelas lombalgias e ciatalgias agudas que tenham evolução atípica e naquelas de evolução insatisfatória, cuja causa não foi determinada após seis semanas de tratamento clínico."

Quando houver a presença de sinais de alerta a realização de exames complementares (exames de sangue e de imagem) estará indicada de imediato. 

Os sinais de alerta são os seguintes:

- idade acima de 50 anos ou abaixo de 20 anos
- história de câncer
- sintomas como febre, calafrios, perda de peso, sem outra explicação convincente
- infecção bacteriana recente, dependentes químicos, imunossuprimidos
- dor com piora noturna
- dor com piora em decúbito dorsal
- trauma maior
- trauma menor em idosos ou osteoporóticos e em usuários de corticosteróides
- anestesia em sela (dormência ou redução de sensibilidade na região entre o pênis/vulva e o ânus)
- disfunção de bexiga (incontinência ou retenção urinária)
- déficit neurológico progressivo ou grave em membros inferiores ("perda de força ou sensibilidade nas pernas").

No link abaixo você encontra a íntegra da diretriz, com mais detalhes sobre lombalgia e lombociatalgia.

http://bibliofarma.com/protocolo-e-diretrizes-terapeuticas-lombalgias-e-lombociatalgias/


Dr. Fabrizio Borges Scardino

Neurocirurgia

Tratamento Intervencionista da Dor

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Neuralgia do trigêmeo - Saiba um pouco mais sobre este tipo de dor


Neuralgia do trigêmeo

Os nervos trigêmeos (quinto par craniano) são responsáveis pela inervação motora dos músculos responsáveis pela mastigação e pela inervação sensitiva de quase toda a face. É divido em 3 raízes (V1 - oftálmico; V2 - maxilar; V3 - mandibular).

A neuralgia do trigêmeo se caracteriza por uma dor aguda, rápida, em choque, de forte intensidade, normalmente unilateral, em um ou mais dos territórios inervados pelo nervo trigêmeo. A causa mais comum é a proximidade a uma artéria (geralmente a a. cerebelar superior), sendo que as pulsações deste vaso sobre o nervo deflagram a dor. Existem outras causas menos comuns de neuralgia do trigêmeo como tumores e esclerose múltipla.

O tratamento inicial é medicamentoso e normalmente o paciente apresenta controle satisfatório das crises de dor. Quando a neuralgia é refratária à medicação em dose adequada ou quando o paciente apresenta intolerância ao tratamento medicamentoso, pode estar indicado o tratamento cirúrgico.

O tratamento cirúrgico da neuralgia do trigêmeo pode ser realizado através de diferentes técnicas:
- microcirurgia com descompressão microvascular (é tratada a causa do problema, separando-se a artéria do nervo)
- neurólise do nervo trigêmeo com balão (cirurgia percutânea onde o nervo é comprimido e sofre uma lesão, extinguindo-se o estímulo doloroso)
- neurólise do nervo trigêmeo com radiofrequência (cirurgia percutânea onde um ramo do nervo sofre uma lesão térmica, extinguindo-se o estímulo doloroso no ramo lesado)

Cada uma destas técnicas apresenta riscos e benefícios e a escolha da melhor modalidade de tratamento deve ser analisada caso a caso pelo neurocirurgião assistente.


Dr. Fabrizio Borges Scardino

Neurocirurgia

Tratamento Intervencionista da Dor

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Falando um pouco sobre hérnia de disco intervertebral

Hérnia de disco                                                  

O disco intervertebral é uma estrutura composta por uma parte central (núcleo pulposo) que é envolvida por um anel fibroso, e fica localizado entre as vértebras desde a segunda vértebra cervical até a quinta vértebra lombar.

A hérnia de disco ocorre quando há um enfraquecimento no ânulo fibroso com consequente extravasamento do núcleo pulposo para a região posterior ou póstero-lateral, que comprime a raiz nervosa ou a medula espinhal contra o osso da vértebra.

As hérnias discais podem ser cervicais, torácicas ou lombares.

A hérnia discal cervical (HDC) pode ocasionar compressão tanto de uma raiz cervical quanto da medula espinhal cervical. Quando há compressão radicular os sintomas usuais são cervicobraquialgia (dor na coluna cervical com irradiação para um ou ambos os braços seguindo o trajeto inervado pela raiz comprimida), parestesia (dormência / formigamento) ou paresia (fraqueza em músculo inervado pela raiz acometida). Já nos casos com compressão medular ocorre uma outra doença chamada de mielopatia cervical espondilótica (MCE).

A hérnia discal torácica é menos comum que a cervical e a lombar. Assim como a HDC, pode haver compressão tanto da raiz nervosa (dor na coluna torácica irradiada para a face anterior do tórax ou abdome) quanto medular (fraqueza ou paralisia dos membros inferiores e alteração do controle da bexiga e intestino).

A hérnia discal lombar (HDL) sempre comprime a raiz nervosa, provocando lombociatalgia (dor lombar com irradiação para as pernas seguindo o trajeto de inervação da raiz acometida), parestesia (dormência / formigamento) ou paresia (fraqueza em músculo inervado pela raiz acometida). A HDL nunca comprime a medula, portanto não há risco de paraplegia. Em caso de hérnias muito grandes pode haver alteração da sensibilidade perineal (região do escroto ao ânus) e alteração do controle da bexiga e intestino (síndrome da cauda equina) ou perda de força no pé, sendo, nestes casos, indicada cirurgia de urgência.

O tratamento das hérnias discais é, exceto em casos onde há perda de força ou síndrome da cauda equina, inicialmente realizado através do uso de medicamentos (analgésicos, antiinflamatórios, relaxantes musculares, entre outros) e fisioterapia (alongamento, RPG, Pilates, etc). A grande maioria dos pacientes com hérnia discal melhora sem precisar ser submetido a uma cirurgia, podendo o tempo até a melhora variar de poucos dias a várias semanas ou meses.  A cirurgia é reservada aos poucos casos que não melhoram apesar de todas as medidas não-cirúrgicas adotadas.

A cirurgia para a hérnia de disco cervical  é realizada, normalmente, através de uma pequena incisão na região anterior do pescoço, com ressecção microcirúrgica do disco intervertebral doente e substituição deste por uma prótese que pode ser de titânio ou material sintético (PEEK), podendo-se ou não associar uma placa de titânio para fixação da coluna cervical.

A cirurgia para hérnia discal lombar é realizada através de uma pequena incisão nas costas e, sob visão de microscópio, o disco intervertebral doente é ressecado. Pode-se ou não realizar a colocação de prótese para substituição do disco lombar retirado e realizar fixação da coluna com parafusos.

Dr. Fabrizio Borges Scardino

Neurocirurgia

Tratamento Intervencionista da Dor